A peça é uma produção da Barracão Cultural que narra a
história de uma mulher simples que é arremessada à vida para descobrir as
possibilidades de ver e sentir o universo.
Depois de ser encenada em 25 países Facas nas Galinhas, do
escocês David Harrower, estreia no Brasil com direção de Francisco Medeiros. A
montagem, que é uma realização da Barracão Cultural, abre temporada no dia 1º
de junho, sexta-feira, no Espaço da Companhia do Feijão, tendo no elenco os
atores Eloisa Elena, Cláudio Queiroz e Thiago Andreuccetti.
Facas nas Galinhas é um texto poético e simbólico sobre uma
mulher jovem que se passa em uma aldeia, em um tempo arcaico, não definido.
Casada com um camponês opressor e, talvez, adúltero, ela tem um encontro com o
odiado moleiro (dono do moinho) local que a impulsiona no percurso da
descoberta de si mesma. Essa mulher perfaz uma trilha que a leva da ignorância
à consciência, do literal ao imaginário, da escravidão à libertação.
Segundo o diretor Francisco Medeiros, “o percurso desta
personagem, num contexto cheio de intrigas e elementos inusitados, é a
construção de uma identidade, o desvendamento de um ser. É conquista de uma
individualidade”. Essa mulher apresentada por David Harrower é o arquétipo da
mulher servil ao marido e que ainda não tem aflorado o exercício da metáfora,
do simbólico. De forma brilhante e singular o autor a conduz ao encontro dela
com ela mesma, como se fosse a construção de um ser.
Considerado por muitos como um texto difícil de ser
encenado, Facas nas Galinhas exige dos atores sua máxima potência cênica.
Quanto a isto o diretor confessa: “a peça é de uma simplicidade desconcertante,
tão absurda que nos desafia na visualização de uma encenação”. Ele ainda
explica que a comunicação calcada na simplicidade não é a mais simples de
encenar. “Esta ficção dramática é descamada de truques, desprovida de efeitos e
de golpes de teatro, mas tem fortes e potentes ingredientes narrativos”. A
direção não se desprende desta simplicidade e explora a força das palavras e
situações. “Nosso propósito é evitar a ilustração, a redundância, e convocar o
espectador ser parceiro ativo para que, só assim, a obra se complete.” Explica
Medeiros.
“Facas nas Galinhas se abre a múltiplas leituras para cada
pessoa da plateia”, afirma Francisco Medeiros. Ele completa: “não sou um
encenador do tipo que entra num trabalho com a concepção geral pronta. Prefiro
ser provocado. Minha tarefa é estabelecer uma conexão com as forças dos atores e
dos outros artistas envolvidos na montagem e tentar encontrar a organização
mais intrigante, capaz de afetar poderosamente a plateia”.
A solução cenográfica é outro desafio: tem que possibilitar
o jogo multifacetado proposto por Harrower, numa cronologia não linear e apelar
para a imaginação do espectador diante de uma lógica bem particular. Nesta
montagem brasileira o cenário (de Marco Lima) é abstrato e provocativo, em
combinação com a luz (de Marisa Bentivegna), importantíssima inclusive nas
referencias de tempo (dia e noite) e nos recortes capazes de criar múltiplos
ambientes e atmosferas. Uma estrutura circular (como a pedra de moinho) abre
várias possibilidades para situar cada cena, cercada por caminhos forrados de
sementes (como os grãos de que se faz a farinha). E a concretude desse cenário
dá forma e magia a um campo, uma casa, um moinho...
A trilha (de Dr Morris) é um “complexo sonoplástico”, uma
instalação sonora que combina sons primitivos e naturais, propondo a harmonia
entre o texto e natureza bucólica rural.
Eloisa Elena, atriz e diretora da Barracão Cultural, conta
que a “escolha por este texto foi quase sensorial”. Procurava por um autor
contemporâneo, leu a sinopse na Internet e descobriu que uma amiga havia
montado a peça em Portugal. Entrou em contato com ela e ficou totalmente
envolvida por este universo rústico, poético e ao mesmo tempo transbordante de
simplicidade. “O que mais me atraiu foi essa possibilidade de poesia
permanente, simples, que não aparece à primeira vista e precisa ser
descoberta.”
Sinopse
Uma mulher jovem leva uma vida de subserviência ao Marido,
sem questionar, sem observar, sem apreciar. Apenas vive. O marido é um rude
lavrador que tem uma relação não bem esclarecida com os cavalos, que estão
sempre em primeiro plano. Eles moram numa cabana, no final do vilarejo, onde
todos dependem do moinho para processar os grão e fazer a farinha. O moleiro
(homem que possui livros e gosta de escrever e beber) é odiado por todos os
habitantes, considerado um explorador (pois quem faz o trabalho é o moinho), um
bruxo (sabe de tudo que se fala por ali) e pode ser também um assassino.
Um dia essa mulher sai da cabana e vai levar o almoço para o
marido no campo e, pela primeira vez, ela para por um momento e tem sua
primeira experiência de contato, de relação, com o mundo. Passa a observar e
refletir sobre os fenômenos e as coisas da natureza. Começa aí sua
transformação, seu despertar.
Sua relação com o moleiro se dá quando o marido, ocupado com
o parto de uma égua, incumbe-a de levar os grãos até o moinho, dizendo que ela
só precisa entregar os sacos, aguardar pela farinha e odiar o moleiro. Mas ela
encontra um homem que é o oposto do marido, que lhe observa e oferece ajuda.
Esse homem colabora para o seu despertar para a vida. É ele quem lhe apresenta,
por exemplo, uma caneta. Ela, até então, só usara as palavras pronunciadas.
A pedra do moinho estava velha e a população resolve levar
uma pedra nova para agilizar, então, o serviço, quando o moleiro lhes oferece
uma bebida. Isto resulta numa série de desdobramentos e envolvimentos entre
ele, a mulher e o marido. O desfecho se dá quando os três vão guardar a pedra
velha nos fundos da casa do moleiro e algo inesperado acontece.
Ficha técnica
Espetáculo: Facas nas Galinhas
Texto: David Harrower
Tradução: Fábio Ferretti
Direção: Francisco Medeiros
Elenco: Eloisa Elena, Cláudio Queiroz e Thiago Andreuccetti
Trilha sonora: Dr Morris
Cenário e figurino: Marco Lima
Iluminação: Marisa Bentivegna
Coordenação técnica: Maurício Mateus
Instalação sonora: Dr Morris e Maurício Mateus
Preparação corporal: Fabricio Licursi
Designer gráfico: Teresa Maita
Fotografias: João Caldas
Construção de cenário: Ono-Zone Estúdio
Costureira: Benedita Calixtro
Produção executiva: Geondes Antonio
Administração: Marina Porto
Realização: Barracão Cultural - www.barracaocultural.com.br
Serviço
Estreia 1º de junho - sexta-feira - às 21 horas
Espaço da Companhia do Feijão
Rua Dr. Teodoro Baima, 68 - República/SP - Tel: (11)
3259.9086
Temporada: sextas e sábados (21 horas) e domingos (19 horas)
- Até 15/07
Ingressos: R$ 15,00 (meia R$ 7,50) - Bilheteria: 2h antes da
sessão
Informações: (11) 5539-1275 - Gênero: Drama - Duração: 80
min
Classificação estaria: 12 anos - Capacidade: 60 lugares
Estacionamento conveniado (ao lado do teatro): R$ 15,00.
Editorias: Cultura e Lazer
Terceira idade Turismo
Tipo: Pauta Data
Publicação: 21/05/12
Tags: DAVID HARROWER ESPAÇO DA COMPANHIA DO FEIJÃO; FACAS
NAS GALINHAS
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